Paulo Afonso, 2 de maio de 2024

Emiliano José

Adeus Pelé e muito obrigado

Emiliano josé*
Há um texto precioso, do Juca Kfouri, sobre Pelé, no UOL, de hoje.
Partiu, Pelé partiu para o reino dos encantados.
Quiserem um retrato de corpo inteiro do maior jogador de todos os tempos, inigualável, busquem o texto.
Escrevo com tristeza profunda.
Tristeza e admiração profundas.
Pelé preencheu minha juventude pobre, iluminou-a como ninguém.
A iluminação chegou a milhões de brasileiros.
Eu, a partir de 1960, acompanhava cada jogo, cada escalação do Santos, de quem fui torcedor apaixonado, hoje menos pelas minhas desilusões com o negócio chamado futebol.
Acompanhava, significa: datilografava os participantes de cada jogo, toda a escalação.
Conhecia, por causa de Pelé, cada jogador do Santos.
Havia chegado da roça, e deparado com aquele herói.
Office-boy de banco, aos 14 anos, eu o encontrei.
Hoje, olhando de longe, parece impossível tenha Pelé permanecido no Santos por tanto tempo.
Impossível nos dias de hoje.
O capital tomou por inteiro o futebol.
É capaz de pegar o menino com algum talento recém-surgido e levá-lo embora por alguns milhões, e adeus essa ideia de amor à camisa.
O sujeito, menino menino, ganhou algum valor de troca, vai embora.
Mercadoria, o jogador virou uma simples mercadoria, nada além disso.
A gente amava o Santos.
Amava Pelé.
Os demais daquele fantástico time.
Aquela linha, não é? – Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Existiu Pagão antes de Coutinho.
E veio Toninho, depois.
Lá atrás, Laércio, Getúlio, Mauro, Lima, Calvet – e o notável Zito, maestro daquele time.
Tudo, tudo girava em torno de Pelé.
Ele embalava nossos sonhos de menino.
Embalou por anos a fio.
No mesmo time, repito, no mesmo time, no meu Santos –  inacreditável, coisa de sonho.
Agora, na leitura do texto de Juca Kfouri, percebo ainda mais a grandeza dele.
Não, não o imagino sem defeitos.
Nada do que é humano me é estranho.
Não tinha, no entanto, nenhuma arrogância.
Sendo um dos maiores nomes do mundo, de alguma forma o principal embaixador do País pelos continentes, durante muito tempo o brasileiro mais famoso, poderia ser arrogante.
Como tantos dos nossos craques atuais: arrogantes, exibicionistas, capazes de zombar da miséria do nosso povo, ostentar a riqueza, esquecer-se das origens, degustar um bife folheado a ouro.
Era um homem simples, sincero, capaz de fazer amizades, como fez com Juca Kfouri que, quando necessário, não o poupou.
Criticou-o duramente, como jornalista sério e comprometido com a verdade em uma ocasião, quando considerou havia o Rei derrapado seriamente.
A magia foi o futebol dele.
Magia insuperável, arte, cultura.
E não é saudosismo.
Acho Maradona admirável, como admiro Messi.
Não, nenhum deles se aproximou de Pelé.
De talentos inexcedíveis.
Quisessem gol de perna esquerda, lá estava Pelé.
De perna direita, nenhum problema.
De cabeça, subia como ninguém.
Driblar, especialidade jamais superada.
Velocidade, os zagueiros testemunharam aquela flecha passando.
Quisessem gol de bicicleta, se apresentava.
No servir os companheiros, mestre.
Nenhum atacante chegou perto dele, não obstante tantos talentos.
Foi essa magia a encantar minha adolescência e juventude.
A me seduzir, me cativar, me emocionar.
A compensar as durezas da existência, durezas pelas quais ele, Pelé, também havia passado.
No fim, ao vê-lo partir, ao me quedar triste, muito triste, chorando, digo com emoção:
Muito obrigado, Pelé.
Você foi o maior de todos.
Orgulhou o Brasil.
Honrou o futebol brasileiro.
Amou o seu time porque você teve um time, só um.
Fez a alegria do povo.
E a minha.
E isso não tem preço.
Nunca o esqueceremos.
Você será presença eterna no coração do povo brasileiro.

 

*Jornalista, doutor em Comunicação pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, escritor e membro da Academia Baiana de Letras

Publicado anteriormente por: Pátria Latina

A rainha Elizabeth II com o príncipe Philip apresentam uma taça a Pelé, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ), Brasil, durante uma turnê pela América do Sul, em 10 de novembro de 1968 - Sputnik Brasil, 1920, 16.09.2022

Pelé e o presidente russo, Vladimir Putin - Sputnik Brasil, 1920, 16.09.2022

Pelé durante cerimônia esportiva no Rio de Janeiro, em 2010 - Sputnik Brasil, 1920, 16.09.2022

Em 1969, Pelé marcava seu milésimo gol no Maracanã

 

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