Paulo Afonso, 26 de abril de 2024

Janio Ferreira Soares

A primavera de 2007 e a nova cepa aftosa

Sábado passado, enquanto arrumava uns trecos ao som de Anjos Tronchos, a nova e genial canção de Caetano, achei uma edição de outubro de 2007 da Viver Bahia!, revista que era publicada pela Bahiatursa pra divulgar nossas potencialidades turísticas e culturais mundo afora. E pra ela se encontrar tão bem guardada em meio à valiosas fotos, cartas e rabiscos manchados pelos tintos que os gerou, era porque em suas páginas haveria de ter qualquer coisa que merecesse tamanho cuidado.

E aí, depois de espanar a capa e passar pelas praias de Itacaré, pelo adro da igreja de Santo Amaro através dos traços da professora Zilda Paim e pela nobreza do sorriso de Mãe Stella, finalmente cheguei aos 110 anos da guerra de Canudos, onde finalmente descobri o motivo de tanto zelo. Trata-se da crônica “É primavera no sertão de Conselheiro”, escrita por este ribeirinho em atenção a um carinhoso pedido do amigo ZédejesusBarreto, à época um dos editores da publicação.

Pois bem, depois disso, eis que vejo a simpática moça do tempo do Jornal Nacional – com suas animadas roupas lembrando as cores dos minichicletes Adams -, dizendo que a primavera estaria oficialmente entre nós na quarta-feira, 22/09/21, embora já desse pra notar seus sinais nas flores que há dias adornam mandacarus e caraibeiras, na suavidade do verde bebê revestindo baraúnas e catingueiras e na algazarra da passarinhada fornicando mato adentro, nem aí se a Pfizer é melhor do que a vacina de Doria, nem pra paraibana macheza que finalmente justificou o motivo da nomeação do doutor Queiroga, muito menos se ele e Eduardo Bolsonaro pegaram a Covid normal ou se, no tocante a gado que são, contraíram a fatal cepa aftosa, já que sua transmissão se dá pela baba da mucosa de quem, por exemplo, aglomera comendo pizza nas calçadas.

Voltando ao texto, relendo-o vi que quase nada mudou nas características físicas do ambiente, a não ser as ausências de uma goiabeira que anualmente acolhia um casal de vim-vim que chegava pra perpetuar a espécie e de uma algaroba ao lado do meu quarto, onde casacas-de-couro se acasalavam em seus ninhos de espinhos, provando que o amor, no tempo certo, tem o dom de superar qualquer dor.

Mas felizmente novas árvores cresceram e hoje abrigam lavandeiras, rolinhas, pêgas, bem-te-vis e afins, todos descendentes dos passarinhos que há exatos 14 anos, nem aí pra Lula e os 40 denunciados no mensalão, seguiram à risca a letra de Façamos (Vamos Amar), magistral tradução de Carlos Rennó pra Let’s Do it (Let’s Fall In Love), canção de Cole Porter, que foi gravada por Elza Soares e Chico Buarque.

Ela é aquela que diz que um bilhão de chineses fazem; nisseis, gays e hindus fazem; libélulas, pulgas, centopeias e até bicho-do-pé fazem. A propósito, agora pintou uma dúvida. Será que o constipado do Alvorada faz? Bom, a julgar pela tez sem viço de dona Michelle, é melhor perguntar lá no posto Ipiranga.

*Janio Ferreira Soares é Secretario Municipal de Cultura de Paulo Afonso, Cronista do Jornal À Tarde e colaborador do Portal Tribuna Mulungu.

 

 

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