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TEMPOS SOMBRIOS

Por Lúcio Flávio Colunista Tribuna Mulungu, 11/06/2019 ás 00:00

Em meus quase meio século de vida e, mais da metade dele atuando no meio político, seja em coordenações de campanha, assessorias ou como prestador de serviços, confesso que nos últimos três anos as coisas ficaram um tanto diferente nos debates sobre política.

Depois da mobilização dos “R$ 0,20 centavos” em 2013, aquela do aumento das passagens de ônibus em São Paulo que contagiou o Brasil, as pessoas se sentiram livres para se manifestarem sem necessariamente ter um líder político.

Primeiro foi o surgimento de grupos aleatórios sem lideranças e desorganizados que fizeram surgir movimentos, alinhados com o pensamento de direita, na maioria jovens de classe média e pobres, mesmo. Mas também segmentos de esquerda descolados dos movimentos de base (que fizeram surgir partidos de esquerda) que estavam insatisfeitos com o amasiamento de lideranças da esquerda, com as “elites” que se propunham combater. Mas isso será assunto em outro artigo.

Fico feliz que mais pessoas querem e se encorajam para o debate. Mas a novidade vem do primeiro grupo, da onde surgiram debatedores, que na verdade não defendiam ideias de gestão pública para realidade nacional, mas se posicionaram contra os políticos tradicionais e tudo considerado como conquistas sociais e encheram as redes sociais. São anti-tudo. São seguidores de pseudos intelectuais e lideranças políticas que conhecem o Brasil e o Mundo pela TV e internet. Não devem saber nem a realidade de onde mora. Alguns são inteligentes e possuem considerável intelecto para a política, mas a maioria são meros replicadores desses, fazendo das fake-news e mentiras fantasiosas uma armadilha na opinião pública e na própria capacidade de discernimento. Do outro lado, mais a esquerda, o outro grupo repudia o primeiro, e por vezes, são levados nos mesmos erros e não esperava esse tipo de seguidores, sendo pegos de surpresa. Aos dois falta maturidade política, de compreender que hora ganha-se, hora perde-se, há decepções, fracassos e momentos de reconhecer os erros, deixando o orgulho de lado.

Bem verdade que a política brasileira tem sido decepcionante e os escândalos de corrupção envolvendo lideranças importantes, como ex-presidentes, ex-governadores, ex-ministros, deputados e grandes empresários, são o estopim para algo perigoso: a descrença na classe política. Criou-se uma polarização no debate, como se só houvessem apenas dois lados, duas opiniões na política.

Quem me conhece a mais tempo sabe que minha postura política sempre foi a da contestação de argumentos, mesmo entre os da mesma linha ideológica. Sou um provocador do diálogo. Gosto de conversar e debater sobre política e gestão pública, mas não abandono os argumentos para atacar os meus interlocutores. E isso tem sido uma orientação obscurantista desses novos debatedores, a agressividade e a defesa dos interesses dos seus líderes, ao invés de defender ideias.

Essa será minha linha de ensaios para a Tribuna Mulungu. Fornecendo um ponto de vista que leve a auto reflexão do leitor, para que se avaliem nos debates sobre política. Um isentão? Claro que não. Apenas uma opinião fora da caixa.

Lúcio Flávio Teixeira é Bacharel em Direito, Advogado, especialista em Gestão Pública. Militante na defesa de direitos humanos, direitos da pessoa com deficiência e pela modernização da Educação Pública.

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