Paulo Afonso, 4 de maio de 2024

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Sapos, Raios, Trovões e a Pedra que Caiu do Céu

HISTÓRIAS QUE VIVI OU OUVI CONTAR

Minha Mãe, Dona Ivete, detestava sapos. Nutria verdadeira ojeriza a esses anfíbios e fazia de tudo para mantê-los a distância, fossem grandes ou pequenos, sapo, rã ou gia.

Em todas as casas que morou, em época de chuva, ela arrumava qualquer coisa para fazer uma barreira e impedi-los de entrar, papelão, madeira ou grade de ferro, e ainda mantinha por perto uma vassoura para enxotá-los caso ultrapassassem as tais barreiras.

Isso por vezes gerava cenas engraçadas, pois alguns desavisados que nos visitavam acabavam por tropeçar e até cair ao passar pelas “armadilhas” que minha mãe criava.

Mas medo, medo, medo mesmo, ela tinha era de raios e trovões. Quando se aproximava uma tempestade ela previa uma semana antes, parece que tinha um sensor, nesses dias que antecediam a trovoada ela não tinha sossego e se preparava para o advento como se o fim do mundo estivesse chegando.

Quando os sinais de chuva se tornavam evidentes, ela confirmava os seus temores, chegara o dia, o sensor alarmava fortemente e ela inciava os preparativos para a chuva colocando as suas barreiras nas portas e reforçava com panos por baixo, para que nem a água e nem pequenos anfíbios invadissem o seu espaço; depois cobria os espelhos com lençóis, fechava portas e janelas e ficava vigiando.

Ao caírem os primeiros pingos de chuva ela já estava abrigada no quarto, ou no sofá da sala, neste, ficava apenas se tivesse companhia, cobria a cabeça com uma toalha, agarrava-se a um terço e rezava com ardor até a chuva amenizar, ou enfim, ser vencida pelo cansaço e adormecer. Mas, isto diga-se era coisa muito rara de acontecer.

Todo esse medo, esse pavor, creio eu, era decorrente de um fato vivido por ela na cidade de Lajedo – PE, quando visitara parentes que ali residiam.

Contava minha mãe que em uma noite de tempestade muito forte, e já de madrugada, pois ninguém conseguia dormir direito, preocupados com a intensidade da chuva, levantaram se ela, a dona da casa, o esposo, e uma outra prima, e foram para a cozinha conversar e tomar café. Sentaram se a mesa, que ocupava quase toda a extensão da cozinha, já que o fogão a lenha ficava numa espécie de puxadinho, e por lá ficaram proseando a espera que a chuva passasse.

Eis que de repente um clarão de cegar os olhos alumiou o céu lá fora, a casa, a rua e junto um estrondo ensurdecedor.
Minha mãe desmaiou de tanto medo, quando acordou a casa estava um caos com as mulheres e crianças em pânico chorando e gritando, muitos inclusive sem entender o que tinha acontecido, assim como ela, que não sabia como havia chegado na sala.

Ao voltar a cozinha viu estupefata um buraco no teto, e a mesa aonde estivera há pouco quase destruída, e no chão, embaixo dela um grande buraco.
Conta-se que um Corisco teria atingido a casa naquela noite, e que depois de sete anos a pedra foi achada, pois dizem os mais velhos, ela sempre volta a superfície, a velocidade de um palmo por ano.

Felizmente ninguém se feriu, e, a cada ano, e por muitos anos, aquela família se reuniu para rezar o terço na data do acontecido, agradecendo a Deus pelas vidas poupadas.

Daí em diante e até a sua morte minha mãe nunca mais teve sossego em dia de trovoada.

Por José Ivandro, blogueiro, aprendiz de jornalista e colunista do Tribuna Mulungu.

Nota do Autor: A Ciência evidentemente discorda da existência das Pedras de Raios ou Coriscos na versão popular, contudo existem inúmeras explicações para a formação e o aparecimento dessas pedras, que variam da tese de que seriam artefatos indígenas antigos, a fusão do calcário ao ser atingido por raios, ou até pequenos meteoritos.
No Mercado Livre são vendidas como amuletos por supostamente proteger contra raios a casa daquele que a possui.

Foto: Eulampio Duarte

https://curiosidadesinteressantes.com.br/quando-cai-um-raio-cai-uma-pedra-junto/

http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas—Rede-Ametista/Canal-Escola/Minerais-de-Origem-Pouco-Comum-3531.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_raio_(folclore)

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