Paulo Afonso, 26 de abril de 2024

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UM ANO DO CRIME DE BRUMADINHO: VIDAS SEGUEM DESTRUÍDAS, MAS VALE VOLTA A LUCRAR

Por: michel

Empresa já recuperou seu valor de mercado. Sem perspectivas de renda, 93 mil pessoas tiveram auxílio cortado pela metade

Por Pedro Stropasolas

De Brumadinho (MG)

Edilaine Pereira Coimbra nunca teve relação com a Vale, mas estava no rio Paraopeba quando chegou a lama, como muitos naquele 25 de janeiro de 2019. Só teve tempo de cortar as 25 linhas, juntar os três filhos que criou com o rendimento da pesca da curimba e seguir pela trilha que não teria mais volta.

A vida ficou escassa. Hoje a pescadora sobrevive do salário mínimo que recebe da Vale e da venda de guloseimas pelas ruas de barro sequer registradas na Prefeitura de Betim, a 25 km de Brumadinho.

“Eu garanto a você, todo mundo queria a vida que tinha. Nós queríamos nosso rio aí limpo. Era muito mais do que estar aí todo mês pegando um salário mínimo, que agora nem um salário mais é. Acha que a gente tá pedindo esmola. E ninguém tá pedindo esmola. Se ela fez, a obrigação dela é pagar.”

Um ano após o maior crime socioambiental da história do Brasil matar 259 pessoas e deixar 11 desaparecidos, em Brumadinho, a Vale cortará pela metade o auxílio emergencial de pelo menos 93 mil pessoas que vivem ao longo dos 48 municípios impactados pela lama despejada na bacia do rio Paraopeba.

Previsto no Termo de Acordo Preliminar (TAP) firmado em fevereiro de 2019, o pagamento emergencial – com valor limitado a até um salário mínimo – é atualmente parte do sustento de 108 mil pessoas, que vivem na área entre Brumadinho e o município de Pompéu – a 273 km do local do rompimento da barragem.

O valor integral do auxílio, que já é considerado insuficiente pelos atingidos, permanece apenas onde a mineradora definiu como “zona quente”, composta pelas comunidades de Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira, Alberto Flores, Cantagalo, Pires, e do entorno do Ribeirão Ferro-Carvão, onde vivem entre 10 a 15 mil pessoas.

“A gente sabe que sozinhos somos pequenos. Essa noção de ser pequeno a Vale também tinha, porque senão ela não deixaria essa barragem romper no nosso território. Porque ela sabia o tempo todo que essa barragem ia romper, mas por ser Córrego do Feijão, um bairro rural, pequeno, ela deixou que acontecesse. Porque ali é um bando de trabalhador… ‘que direitos que eles vão ter?’, ‘que direitos que eles vão conquistar?’. Exemplo disso são as indenizações. Nessa tragédia de Brumadinho, elas são pequenas. Elas não têm caráter punitivo. Pra Vale, isso não é nada. Porque ela está pagando indenização, mas sai em superávit trimestral”, questiona Jeferson Custódio, presidente da Associação dos Moradores do Córrego do Feijão.

Na comunidade não circulam mais pessoas, somente caminhões carregando poeira e medo do que a Vale não conta aos moradores. Das 272 pessoas mortas no rompimento da barragem, 27 eram do Córrego do Feijão. Custódio relata que 49 famílias já deixaram a comunidade por conta do trauma ou por terem suas propriedades compradas pela mineradora.

Os efeitos do crime ainda são evidentes nos locais atingidos. Falta água potável, acesso à saúde e a políticas púbicas, a agricultura definha e o turismo deixou de existir na região. Moradores sucumbem ao adoecimento físico e mental enquanto assistem o desmonte das comunidades rurais e ribeirinhas.

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