Paulo Afonso, 24 de abril de 2024

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Meu amigo Paulo Litó e a guerra nuclear que felizmente não ocorreu

O COPA sempre fez parte da minha vida, quando criança fui aluno na escola infantil dirigida por Tia Eva de Jesus; Na adolescência, filmes e festas, além de frequentar o clube para assistir e, algumas poucas vezes jogar, futebol de salão e voleibol.

O inesquecível sanduiche misto, na chapa com manteiga de garrafa era uma das motivações das minhas visitas. Nos desfiles de 7 de Setembro a molecada só pensava em uma coisa: A Tarde Dançante do COPA, com entrada franca para os que participavam do desfile.

E no COPA conheci Paulo Litó, eu sabia que o clube tinha um estúdio muito bom, montado com o que tinha de melhor na época, com um acervo extraordinário em discos de vinil. Um dia surgiu a oportunidade de gravar naquele estúdio, era uma das edições da FECUPA, Feira Cultural de Paulo Afonso, idealizada por Zé Ivaldo e realizada pelo CEUSPA, Centro dos Estudantes Universitários e Secundaristas de Paulo Afonso.

Aquela edição da feira acontecia lá no COPA, e o clube liberou o estúdio para gravação dos spots para divulgação. Eu não era um locutor ruim não, tinha uma boa voz e uma boa dicção, me faltava o cacoete dos grandes profissionais, na época os melhores de Paulo Afonso eram Gilberto Leal, Djacy Oliveira e Paulo Litó. Tinha uma gama de locutores de alto nível na cidade, todos da Rádio Cultura, mas esses Diniz não permitia que gravassem para carro de som.

Sem recursos para pagar pelas melhores vozes, lá fui eu, até então locutor de megafone, e, com quase nenhuma experiência em locução, gravar o spot de chamada da Palestra da grande Ana Montenegro, Jornalista e poeta cearense, radicada na Bahia. O Tema: A Paz Mundial.

Pois bem, Zé Ivaldo fez o texto, e eu, tremendo diante de tamanha responsabilidade, teria que gravar diante do dono de uma voz poderosíssima, o famoso Paulo Litó, e não era um texto qualquer, era o convite para a palestra mais importante daquele evento; iria gravar no melhor estúdio da cidade, aonde nunca tinha posto os pés antes. O ar condicionado ligado a todo vapor e eu suando bicas.

Mas o Paulo não era só um bom locutor, primeiro me acalmou, mostrou o estúdio, falou de como funcionava, explicou cada detalhe da gravação e disse que eu não tivesse medo de errar por que se errasse tinha conserto. Excelente sonoplasta que era, escolheu a música correta para o contexto, me deu dicas de respiração e equalizou corretamente a minha voz. A gravação ficou perfeita, impactante eu diria, com uma trilha sonora dramática, a minha voz grave e bem colocada, modéstias minhas e de Paulo a parte, chamou a atenção da cidade inteira.

Uma hora e meia depois, eu saindo da Movelaria Oriental, loja de propriedade do meu pai José Ferreira, na Rua São Francisco, lá vem o carro de som, estrondando “Você sabia? Se houver uma guerra nuclear entre a União Soviética e os Estados Unidos da América, em uma semana os efeitos serão sentidos no Brasil…”

De repente ouvi um grito muito alto, “Vocês são loucos? estão querendo matar o povo de medo?”, quando me viro, vejo Seu Frutuoso, pai de Pedro do Mercador da Cidade, Seu Frutuoso tinha uma voz grave, um vozeirão, poderia ter sido locutor, não sei se foi. Gesticulava com a bengala na mão, com cara de poucos amigos, exigia explicação daquele anúncio. Ficou bravo por que, no seu entendimento, nós estávamos deixando mulheres e crianças em pânico com aquela propaganda “assustadora”.

Depois que contei a Paulo que eu quase apanhava na rua por culpa dele, demos boas risadas. Antes, claro, tive que convencer Seu Frutuoso de que aquele tipo de “chamada” era normal, assustava, mas depois esclarecia tudo, deu trabalho.

Gravei com Paulo muitas outras vezes depois, no COPA e no seu estúdio particular, nos tornamos amigos. Entristeceu me a noticia de sua partida, espero que descanse em paz. Que Deus conforte amigos e familiares.

*José Ivandro é aprendiz de Jornalista, e Editor de Politica do Portal Tribuna Mulungu

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