Paulo Afonso, 16 de maio de 2024

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GUERREIROS EM ARMADURAS DE COURO

O processo de colonização no Brasil só iniciou-se a partir de 1530 com a vinda dos fidalgos portugueses, agraciados com as capitanias em que os donatários detinham plenos poderes se constituindo na verdade em pessoas poderosas, em decidir os destinos das capitanias, exercendo a justiça, arrecadando impostos, concedendo sesmarias, explorando os minérios de aluvião e em praticar a preação de índios, ou seja, apresamento para satisfazer o modelo escravista em vigor, mais tarde consolidando-se com o tráfico negreiro, modelo desumano de utilização da mão de obra, em que o mesmo era visto como propriedade do seu senhor.

Inicialmente a colonização e consequente ocupação do território nordestino, em particular da Bahia, se deu pelo litoral, satisfazendo o ímpeto do modelo agro-exportador empreendido pela metrópole portuguesa, as capitanias passaram a cultivar a cana-de-açúcar, pois, tinha uma boa aceitação o açúcar dela derivado, ou seja, existia um mercado consumidor certo, alcançando excelente preço no comércio europeu tornamdo-se, assim, “o rico ouro branco”, atendendo os interesses mercantilistas e de acumulação de riquezas, se constituiu no primeiro grande ciclo econômico do Brasil – Colonial submetido a corôa portuguesa, logo sentiram outras necessidades à exemplo da criação do gado bovino, que lhes-iam dá suporte como uma atividade secundária, mas não menos importante, pois, oportunizará não só o desenvolvimento do cultivo da cana, utilizando-se do gado como meio de transporte, como tração animal, fornecimento de carnes para alimentação e o comércio de peles, ou seja, do couro.

As primeiras cabeças de gado que chegaram à colônia foram trazidas pelo então governador geral Tomé de Souza, em numero de doze reses, com a finalidade de apoiar o cultivo da cana-de-açúcar.

Com o passar dos anos o rebanho irá paulatinamente aumentando mostrando-se inviável a sua criação e manejo junto aos partidos de cana.
Isto irá possibilitar o processo de interiorização da colônia, pois, além disto as pastagens naturais eram abundantes, não atrapalhando o cultivo da cana-de-açúcar em nenhum dos seus momentos em que era processada.

O conhecimento do interior será cada vez maior, alargando o território com a presença dos colonos e consequente ocupação, redesenhando o espaço físico-geográfico, delimitando limites e fronteiras dos sertões, possibilitando um comércio cada vez maior e próspero, os ” velhos currais ” irão cedendo lugar para o surgimento das primeiras povoações, vilas, vilarejos, províncias que mais tarde tornar-se-ão cidades.

As feiras de gado eram de fato o elo de ligação entre os currais e as povoações que surgiam à exemplo de grandes polos comerciais e industriais do presente, tais como: Feira de Santana (Bahia), Caruaru (Pernambuco) e Campina Grande na Paraíba.

O cenário dos sertões se modificará ao longo dos tempos, pois, a perseverante criação do gado dará oportunidades de enriquecimento e sobrevivência de muitos, fazendo surgir também e principalmente, uma ” civilização corácea “, do comércio de peles que será fartamente utilizada na confecção de celas, arreios, viseiras, peitorais, calçados, perneiras, blusas e chapéus de couro, que irão compor a indumentária da figura humana do vaqueiro e do seu cavalo, ambos predispostos ao trabalho heroico de vaquejar o gado, juntos se responsabilizam pelo o zelo, os cuidados e o seu manejo, tornar-se-ão verdadeiros guerreiros em suas armaduras de couro à correr pelas caatingas, à enfrentar os cactus, os xique-xiques, mandacarus, coroas-de-frade o rasga gibão.

Eis, o grande responsável pelo crescimento do rebanho, prontos para pastorear o gado imprimindo de maneira destemida os cuidados necessários para sua integridade, o vaqueiro, nas trilhas de gado, faz ressoar no seu aboio uma quase oração, só entendida por ele e a própria rês, neste caminhar vale ressaltar que de sertão adentro o Rio São Francisco ” o velho Chico “, tão carinhosamente chamado e conhecido pelos ribeirinhos, deu lugar durante muito tempo às trilhas de gado e pouso de boiadas.

O vaqueiro, esta figura mítica e quase lendária que povoa os sertões, associado a utilização do couro o seu comércio e manejo do gado, fez surgir hábitos e costumes tornando-se, uma referência identitária para o nordeste.

Nasceu como um segmento social livre de um povo mestiço, caboclo que se apaixona e se dá conta do seu existir.

Se não existe caatinga e nem gado, o vaqueiro também não, resta-nos as vaquejadas e as pegas de boi no mato para celebrar o que outrora era comum no sertão.

Neguemos a extinção !!! Por tudo que o vaqueiro representa é merecedor do reconhecimento popular, mas carece que as entidades culturais responsáveis pela memória histórica, se debrucem sobre esta questão no sentido de preservar e tomba-la como patrimônio imaterial da história nordestina e brasileira.

Prof.Jose Maria de Souza, Escritor Esp. em História do Nordeste e Dirigente Escolar

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