Paulo Afonso, 20 de abril de 2024

Cultura

Especial – Paulo Afonso 61 anos de história

Por Antônio Galdino – Site Folha Sertaneja 19/07/19 às 15:22h (http://(http://www.folhasertaneja.com.br/noticias/especiais/385410/1)

Nota da Redação do Portal Tribuna Mulungu

O Professor Antonio Galdino produziu essa reportagem especial, contando um pouco da rica história de Paulo Afonso, que nos próximos dias comemora os seus 61 anos de Emancipação Politica.
No bojo dessa história está incluída a história do BTN (Mulungu), hoje o maior bairro da cidade, e que, salvo engano deste redator, nunca foi contada antes, e, por si só já vale a leitura.
Agradecemos imensamente ao professor Antonio Galdino pela autorização que nos foi dada, para republicar esta reportagem nas páginas do Portal Tribuna Mulungu.
Caro leitor, essa reportagem é uma excelente fonte de pesquisa, incentive a leitura e compartilhe com familiares e amigos.

Em 28 de Julho Paulo Afonso completa 61 anos de emancipação política

Se a Chesf não tivesse construído a sua primeira Usina hidrelétrica nestas terras sertanejas e muitas outras durante 50 anos, não haveria o município de Paulo Afonso e muitos outros da região.


Ilha de Paulo Afonso – Bahia  (Foto: Antonio Galdino e Arq. jornal Folha Sertaneja)

A luta de Abel Barbosa e alguns pioneiros a partir do ano de 1950 para a emancipação política de Paulo Afonso mudou a história desta região.

Mas, toda a história começou mesmo ainda no século XVIII, há 300 anos, nas margens do rio São Francisco, na divisa dos Estados da Bahia e Alagoas ao lado de várias quedas dágua, quando se passou a conhecer o nome Paulo Afonso.

Vários nomes entram nessa história. Um engenheiro alemão/brasileiro, Henrique Halfeld, o Imperador D. Pedro II, o poeta baiano Castro Alves, o cearense Delmiro Gouveia. Há pouco mais de 70 anos, outros nomes também participaram da história dessa região: o pernambucano Apolônio Sales, o gaúcho Getúlio Vargas, um mato-grossense, Eurico Gaspar Dutra, um carioca Antônio José Alves de Souza.

Um potiguar, João Fernandes Campos Café Filho, o único presidente da República potiguar, nascido em Natal/RN e o primeiro presidente evangélico (presbiteriano) do Brasil, inaugurou em 15 de Janeiro de 1955, a primeira usina hidrelétrica do Nordeste, a primeira subterrânea da América Latina e levou a “luz de Paulo Afonso” para a região.

Um pernambucano, sanfoneiro, cantador nascido em Exu, espalhou a história da Chesf pelo mundo a fora na música Paulo Afonso, um baião, criado por Zé Dantas, médico, compositor, outro pernambucano, de Carnaíba, no mesmo ano de 1955 em que era inaugurada a primeira usina da Chesf em Paulo Afonso. 

Delmiro deu a ideia
Apolônio aproveitou
Getúlio fez o decreto
E Dutra realizou
O presidente Café
A usina inaugurou
E graças a esse feito
De homens que tem valor
Meu Paulo Afonso foi sonho
Que já se concretizou

Olhando pra Paulo Afonso
Eu louvo nosso engenheiro
Louvo o nosso “cassaco”
Caboclo bom verdadeiro
Eu vejo o Nordeste
Erguendo a bandeira
De ordem e progresso
A nação brasileira
Vejo a indústria gerando riqueza
Findando a seca
Salvando a pobreza

Ouço a usina feliz mensageira
Dizendo na força da cachoeira
O Brasil vai, o Brasil vai
O Brasil vai, o Brasil vai…

Paulo Afonso, município baiano que nasceu em 28 de Julho de 1958, tem muitas histórias. E tudo começou com um nome – Paulo Afonso – há 300 anos, no túnel do tempo…

Antecedentes – o nome Paulo Afonso

O nome Paulo Afonso, que foi dado às primeiras Usinas Hidroelétricas da Chesf e depois ao município que nasceu em 1958, vem do nome da Cachoeira de Paulo Afonso que passou a se chamar assim no ano de 1725.

É que, neste ano de 1725, quando se vivia no Brasil o período das Capitanias Hereditárias, as terras onde existia uma grande queda d´água do rio São Francisco, chamada de Forquilha, Sumidouro ou Cachoeira Grande, pertenciam à Capitania de Pernambuco e o donatário dessa Capitania, Duarte Coelho doou essas terras ao português Paulo Viveiros Afonso. A partir de então as quedas d´água passaram a se chamar Cachoeira de Paulo Afonso. 

A Cachoeira de Paulo Afonso

As grandes quedas d´água mereceram a atenção de personalidades importantes do Brasil.

Elas foram relatadas com grande entusiasmo pelo engenheiro alemão, naturalizado brasileiro, Henrique Guilherme Fernando Halfeld, contratado pelo Imperador D. Pedro II para fazer um levantamento completo do rio São Francisco, desde a cidade de Pirapora, em Minas Gerais até a foz do rio, no Oceano Atlântico, entre os Estados de Alagoas e Sergipe. Esse estudo foi realizado nos anos de 1852 a 1854 e todos o que a equipe do pesquisador Halfeld foi encontrando no rio, medido légua a légua (a cada seis quilômetros), ilhas, praias, cachoeiras, era anotado e mapeado. A Cachoeira de Paulo Afonso vem registrada nas léguas 324 e 325. 

O Imperador D. Pedro II visita a Cachoeira de Paulo Afonso

O Relatório do engenheiro Halfeld causou tanto impacto que o Imperador D. Pedro II resolveu visitar a Cachoeira de Paulo Afonso. Junto com grande comitiva, ele saiu da corte, no Rio de Janeiro, em grandes navios até Maceió. Dali seguiu em barcos menores até Penedo e até Piranhas/AL.

De Piranhas até a Cachoeira de Paulo Afonso, o trajeto foi feito a cavalo. Em 20 de Outubro de 1859, o Imperador viu as grandes cachoeiras de um local, no lado alagoano, que ficou conhecido como Limpo do Imperador, onde montou o seu acampamento. O Imperador fez desenhos da Cachoeira e também visitou a Furna dos Morcegos. Dez anos depois da visita do Imperador foi feita uma grande placa de bronze para marcar essa visita. 

Castro Alves e a Cachoeira de Paulo Afonso

As grandes quedas d´água da Cachoeira de Paulo Afonso também impressionaram o poeta baiano Antônio de Castro Alves que, mesmo sem conhece-las pessoalmente, mas só de ouvir relatos de sua beleza escreveu um longo poema chamado A Cachoeira de Paulo Afonso que deu nome a um dos seus livros publicado em 1876 somente 5 anos depois de sua morte. Essa é uma estrofe do poema de Castro Alves:

A cachoeira! Paulo Afonso! O abismo!
A briga colossal dos elementos!
As garras do Centauro em paroxismo
Raspando os flancos dos parcéis sangrentos.
Relutantes na dor do cataclismo
Os braços do gigante suarentos
Aguentando a ranger (espanto! assombro!)
O rio inteiro, que lhe cai do ombro. 

Delmiro Gouveia e a Cachoeira de Paulo Afonso

A Cachoeira de Paulo Afonso além de atrair a atenção de muitos visitantes, também despertou em outros o grande potencial para a produção de energia elétrica a partir da força das suas águas.

Foi o que fez o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia que se estabeleceu na região no início do século XX, em 1903. Com a experiência de outros grandes investimentos feitos no Recife e adquiridos em sua permanência, por um tempo, na Europa, Delmiro Gouveia decidiu construir uma usina hidrelétrica na margem direita do rio São Francisco, nas terras alagoanas, ao lado da Cachoeira de Paulo Afonso e em 1913 foi inaugurada a Usina Angiquinho e, das mesmas águas do rio São Francisco saía a energia hidroelétrica e água encanada para movimentar a sua fábrica de linhas de costura e as casas e ruas do Povoado Pedra, hoje cidade de Delmiro Gouveia/AL. O sonho de Delmiro era levar a energia elétrica gerada em Angiquinho para todo o Nordeste mas isso não foi possível naquele tempo.

É criada a Chesf e aproveita a ideia, de Delmiro Gouveia

Em 1945, o engenheiro agrônomo Apolônio Jorge de Farias Sales, nordestino, sertanejo de Altinho, em Pernambuco, era Ministro da Agricultura do Presidente Getúlio Dornelles Vargas e teve a iniciativa de apresentar ao presidente um projeto de criação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf – para aproveitar a ideia de Delmiro Gouveia e produzir energia elétrica, como fez Delmiro, e levar essa energia para toda a região Nordeste do Brasil.

O presidente Vargas aprovou o projeto de Apolônio Sales e em 3 de Outubro de 1945 assinou os Decretos-Leis Nº 8031 e 8032 criando a Chesf. Mas, em 29 de outubro de 1945 Getúlio Vargas e deposto por um golpe militar e deixa o cargo. Os Decretos da criação da Chesf ficaram parados.

Em Julho de 1947, o presidente do Brasil, General Eurico Gaspar Dutra, visita a Cachoeira de Paulo Afonso acompanhado de grande comitiva e em Março de 1948 ele dá posse à primeira diretoria da Chesf, presidida pelo engenheiro Antônio José Alves de Souza. 

Até esse ano de 1948, toda a região da margem direita do rio São Francisco onde hoje está a cidade de Paulo Afonso era apenas um pedaço da caatinga sertaneja, com alguns casebres espalhados e se chamava Forquilha.

Bem próximo ao rio, outras poucas casas formavam a Tapera de Paulo Afonso, onde hoje é o Bairro Centenário.

Toda essa região começou a receber centenas, milhares de brasileiros, principalmente de outros Estados do Nordeste, à procura de emprega nas grandes obras iniciadas pela Chesf – a construção da Usina de Paulo Afonso, a construção da barragem Delmiro Gouveia e a construção de milhares de casas residenciais, escritórios, escolas, hospital, clubes sociais, pela Chesf no que se chamou de Acampamento da Chesf e também de Cidade da Chesf com uma invejável infraestrutura, saneamento básico, energia elétrica nas casas e nas ruas, água encanada, ruas calçadas, praças, uma cidade modelo para a região.

Ao lado da Cidade da Chesf crescia desordenadamente o povoado Forquilha que passou a ser também conhecido como Vila Poty e onde, logo, já moravam milhares de pessoas.

Acampamento da Chesf e a Vila Poty, Distrito de Paulo Afonso 

Em 1948 a Chesf se instalou no lugar e começaram os trabalhos de construção da Usina de Paulo Afonso, da Barragem Delmiro Gouveia e de centenas de casas, escritórios, escolas, hospital no chamado Acampamento da Chesf ou Cidade da Chesf, para acomodar os milhares de nordestinos que chegavam para trabalhar nas grandes obras da Chesf.

Nem todos moravam no Acampamento da Chesf e a pequena Forquilha cresceu muito. As pessoas que ia chegando começaram a fazer suas casas simples, de barro, chamadas casas de taipa que tinham suas paredes forradas pelos sacos vazios do cimento da marca Poty, utilizado nas obras da Chesf.

Por causa disso o povoamento que se formou fora da área da Chesf, ficou conhecido como Vila Poty e toda essa área pertencia ao município de Glória/BA. (Vila Poty)

Em 1953, o povoamento Vila Poty já possuía milhares de habitantes, um grande comércio e foi transformado em Distrito de Paulo Afonso e em 1954, quatro vereadores desse Distrito foram eleitos para a Câmara Municipal de Glória que funcionava na cidade de Glória, a 30 quilômetros da Vila Poty.

Em 1954, o Distrito de Paulo Afonso elegeu quatro vereadores para a Câmara Municipal de Glória – Abel Barbosa, Amâncio Pereira, Hélio Garagista e Otaviano Leandro de Morais.

Abel Barbosa e a emancipação de Paulo Afonso

Embora a emancipação política de Paulo Afonso tenha acontecido em 28 de Julho de 1958, a luta dos moradores da Vila Poty para essa emancipação começou ainda no final dos anos de 1948, com a chegada da Chesf.

É que, ao construir o seu Acampamento ou a Cidade da Chesf, foi feita também uma grande cerca de arame farpado, depois substituída por um muro que separava a Chesf da Vila Poty e, para entrar na área da Chesf, onde estavam o mercado, a feira livre, os clubes, o hospital, o campo de futebol e centenas de residências dos operários e funcionários da Chesf, era preciso passar nas várias guaritas montadas pela Chesf onde todos precisavam se identificar. 

Em 1950, chegou a Forquilha/Vila Poty, Abel Barbosa, pernambucano de Pesqueira, com 22 anos, mas já com grande vivência política pois atuava nas campanhas de nordestinos como Apolônio Sales, Agamenon Magalhães, Barbosa Lima Sobrinho e outros políticos de Pernambuco na região do Agreste pernambucano.

Abel Barbosa, que morava em Pesqueira e atuava nessa região, veio Forquilha/Vila Poty porque os seus pais, João Barbosa e Quitéria Maria de Jesus se mudaram para esse lugar onde o pai trabalhava na construção das casas Tipo’O’ do Acampamento da Chesf e faleceu.

Abel, atendendo o chamado da mãe, chegou à Vila Poty em 3 de Setembro de 1950 e não mais saiu desta região, falecendo em Paulo Afonso em 26 de Abril de 2018.

Na Vila Poty, Abel se uniu aos comerciantes e moradores da Vila Poty e se tornou uma liderança na luta pela emancipação política deste povoado.

A eleição de quatro vereadores do Distrito de Paulo Afonso para a Câmara Municipal de Glória fez aumentar ainda mais a luta pela emancipação política de Paulo Afonso.

E, no dia 10 de Outubro de 1956 a Câmara Municipal de Glória aprovou uma Indicação de autoria de Abel Barbosa aprovando essa emancipação política que precisava ainda ser aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia.

No dia 28 de Julho de 1958, o governador Antônio Balbino de Carvalho sancionou a Lei Estadual 1.012 criando o Município de Paulo Afonso.  

A primeira eleição: Otaviano Leandro de Morais é o primeiro prefeito de Paulo Afonso. A Primeira Câmara é formada por 8 vereadores

Em 7 de Outubro de 1958 houve a primeira eleição para prefeito e vereadores para o novo município de Paulo Afonso. O ex-vereador do Distrito de Paulo Afonso, e comerciante Otaviano Leandro de Morais foi eleito como o primeiro prefeito de Paulo Afonso. O seu mandato foi de 07 de Abril de 1959 a 07 de Abril de 1963.

Na mesma eleição foram eleitos os primeiros oito vereadores:

Pelo PTB: José Rudival de Menezes, Luiz Mendes Magalhães e José Freire da Silva, conhecido como José Freire, do Abrigo.

Pelo PSD – Dinalva Simões Tourinho, Diogo Andrade Brito, Lizette Alves dos Santos e Noé Pereira dos Santos.

Pela UDN, Manoel Pereira Neto.

Dinalva Simões Tourinho, filha do Sr. Enoch Pimentel Tourinho, foi eleita a primeira presidente da Câmara de Paulo Afonso mas, como era estudante em Salvador, logo renunciou ao mandato, ficando na presidência da Câmara o vereador Luiz Mendes Magalhães. 

Prefeitos de Paulo Afonso

Em 61 anos de vida, entre 1958 e 2016, Paulo Afonso teve 20 prefeitos e um interventor.

Otaviano Leandro de Morais – 07/04/1959 – 07/04/1963 – Eleito
Adauto Pereira de Souza – 07/04/1963 – 15/09/1966 Eleito -(renunciou)
Manoel Pereira Neto – 15/09/1966 – 28/12/1966 – Assumiu porque era o Presidente da Câmara

Tenente João Soares – 28/12/1966 – 01/02/1967 – Foi interventor por um mês, até a posse do prefeito eleito.
Edson Teixeira Barbosa – 01/02/1967 – 14/05/1974 – Eleito – (renunciou)

Abel Barbosa e Silva – 14/05/1974 – 16/10/1975 – Assumiu porque era o Presidente da Câmara
José Rodrigues de Figueiredo Barbosa – 16/10/1975 – 19/03/1979 (Nomeado pelo Gov. Militar) – (renunciou)
Metódio Nunes Magalhães – 19/03/1979 – 04/04/1979 – Assumiu porque era o Presidente da Câmara
Frederico Fausto Agostinho de Mello -04/04/1979-04/08/1979 – Assumiu porque era o Presidente da Câmara
Abel Barbosa e Silva – 04/08/1979 – 31/12/1985 – (Nomeado pelo Gov. Militar)
José Ivaldo de Brito Ferreira – 01/01/1986 -31/12/1988 – Eleito
Luiz Barbosa de Deus – 01/01/1989 – 31/12/1992 – Eleito
Anilton Bastos Pereira – 01/01/1993 – 31/12/1996 – Eleito
Paulo Barbosa de Deus – 01/01/97 – 31/12/2000 – Eleito
Paulo Barbosa de Deus – 01/01/2001 – 01/04/2004 – Eleito – (renunciou)
Wilson Pereira Filho – 01/04/2004 – 31/12/2004 – Assumiu porque era o Vice-Prefeito
Raimundo Caires Rocha – 01/01/2005 – 31/12/2008 – Eleito

Anilton Bastos Pereira – 01/01/2009 – 31/12/2012 – Eleito

Anilton Bastos Pereira – 01/01/2013 – 31/12/2016 – Eleito

Luiz Barbosa de Deus – 01/01/2017 – 31/12/2020 – Eleito

Flávio Henrique Magalhães Lima, vice-prefeito de Luiz de Deus, já assumiu o cargo de Prefeito por 3 meses e 7 dias. De 26/09/2017 a 02/01/2018, durante problema de saúde do prefeito eleito.

Limites do Município de Paulo Afonso/BA

O município de Paulo Afonso, criado pela Lei Estadual 1.012/58, de 28 de Julho de 1958 foi desmembrado do município de Glória/BA e seus limites territoriais são os seguintes:

Ao Norte, com o município de Glória/BA. Ao Sul, com os municípios de Jeremoabo/BA e Santa Brígida/BA e com o Estado de Sergipe. A Leste, com o Estado de Alagoas e o rio São Francisco e a Oeste com o município de Rodelas/BA. (Veja os mapas abaixo)

Bairro Mulungu, hoje Tancredo Neves 

A região onde hoje estão milhares de casas e instalações comerciais do chamado Bairro Tancredo Neves era uma região conhecida como Riacho do Mulungu onde havia grande quantidade de árvores chamadas Mulungu cujo nome científico é  ERYTHRINA MULUNGU e ERYTHRINA VERNA.

“É uma árvore e também uma planta medicinal encontrada em todo Brasil. Às vezes é chamada de Flor – de – Coral por sua semelhança com o coral vermelho. A planta produz vagens com sementes grandes, vermelhas e pretas, muito utilizadas pelos povos indígenas na confecção de colares e jóias. É também uma planta com propriedades medicinais, sedativas, analgésica, antiasmática, calmante, tranquilizante e diurética, usada contra estresse, ansiedade, insônia, depressão.”

No início dos anos de 1970, na gestão do Prefeito Edison Teixeira Barbosa, durante o Governo Militar iniciado em 1964, a Chesf estava em grande expansão de suas obras e tinha o projeto de construção da Usina Paulo Afonso 4, a maior do seu complexo hidrelétrico de Paulo Afonso.

Para isso, era preciso que fosse construído o grande canal para levar as águas da Barragem de Moxotó para o reservatório dessa nova usina hidrelétrica e alimentar as suas máquinas geradoras de energia. (Foto: Canal da Usina PA4)

Na área onde seria construída essa Barragem da Usina Paulo Afonso 4, moravam família nos lugares conhecidos como Riacho do Grito, Gangorra, Bairro da Lagoa e Bairro do Forno, conforme pesquisou o historiador João de Sousa Lima e elas precisavam ser deslocadas dali.

Para tanto o diretor técnico da Chesf, Engenheiro Amaury Menezes realizou reuniões com o prefeito Edson Teixeira, e tive a oportunidade de participar de uma dessas reuniões, na Ilha do Urubu, onde morava o diretor da Chesf. Nesse encontro, à noite, participaram o prefeito Edson Teixeira, todos os vereadores e eu ali estava como correspondente do Jornal da Bahia, de Salvador fazendo a cobertura jornalístico dessa importante reunião.

Nessa noite, todos estavam no antigo bondinho da Chesf, nos tempos das cachoeiras cheias e o trajeto do bondinho era por cima das quedas do Croatá. Tudo ia bem até que o cabo que puxa o bondinho quebrou e ficamos mais de uma hora pendurados até que a equipe do Sr. Nicolson conseguiu uma forma de puxar o bondinho até a Ilha do Urubu e tudo terminou sem outros atropelos. Era uma reunião preliminar quando a Chesf apresentou o projeto ao prefeito e aos vereadores.

Tempos depois, quando começaram os trabalhos de escavação do canal, conta João de Sousa Lima que, foi necessária a intervenção do Padre Alcides que se colocou à frente das máquinas que estavam derrubando as casas dos moradores. E o Padre Alcides mandou um recado aos seus colegas Padre Mário Zanetta e Lourenço Tori que não poderia participar da celebração da missa com eles naquele dia por esse motivo. 
Conta João que quem estava na missa, pois era muito religioso, era o Dr. Apolônio Sales, presidente da Chesf que, procurado pelos padres e ciente da situação mandou suspender o trabalho.

A partir daí a Chesf passou a fazer todo o loteamento onde foi criado o Bairro Mulungu.

Com a construção do Canal da Usina PA4, toda a área da Chesf e da cidade de Paulo Afonso mais antiga se transformaram numa ilha e vários bairros foram surgindo fora da Ilha de Paulo Afonso, dentre eles o Bairro Mulungu, hoje Tancredo Neves que tem uma população estimada de mais de 45 mil habitantes.

Abel Barbosa, que foi prefeito de Paulo Afonso de 4 de Agosto de 1979 a 31 de Dezembro de 1985 tinha um especial afeto por esse Bairro, para ele, sempre Bairro Mulungu. Foi do seu empenho pessoal junto ao governador Antônio Carlos Magalhães que nasceu o Colégio Estadual do Mulungu (CEM), organizado e dirigido nos primeiros tempos pelo Professor João César Lopes Mascarenhas. Hoje o CEM é o Colégio Estadual Quitéria Maria de Jesus, nome da pelo Professor João César, em homenagem à mãe de Abel Barbosa, mesmo contra a vontade do filho prefeito.

José Ivaldo de Brito Ferreira foi eleito Prefeito de Paulo Afonso, na volta da normalidade democrática, em outubro de 1985 e assumiu o mandato em 1º de Janeiro de 1986.

Em 04 de março de 1986 ele sancionou a Lei Nº 491, de 3 de Março de 1986, que diz no seu “Art. 1°: – Passa o atual Bairro Mulungu a denominar-se Bairro Presidente Tancredo Neves, em homenagem ao idealizador e fundador da Nova República e Presidente do Brasil, falecido em 21 de abril de 1985”.

Símbolos do Município de Paulo Afonso

Brasão do Município

Criado pela Lei nº100, de 7 de Dezembro de 1965

O Brasão de Armas, a Bandeira e o Hino são os símbolos de um país, de um município. Pela Lei n°. 100/65, de 7 de dezembro de 1965, de autoria do Vereador Carlos Alberto Alves, foi criado o Brasão de Armas.         

Câmara Municipal de Paulo Afonso – Estado da Bahia Lei n° 100, de 7 de dezembro de 1965 – Dispõe sobre a criação do BRASÃO DE ARMAS do Município de Paulo Afonso.

Art. 1°. – Fica criado o Brasão de Armas do Município de Paulo Afonso que passará a ter a seguinte descrição Heráldica e Elucidário:

DESCRIÇÃO HERÁLDICA

Escudo português, partido e cortado, formando três campos distintos.         No primeiro, um chefe de goles (vermelho) carregado de uma estrela     de prata, complementado de um fundo de sab1e (preto), deixando. bem destacado, também de prata, a silhueta dos três lances de uma cachoeira, tendo no alto uma faixa de blau (azul) que representa o céu; no segundo campo, de blau (azul) uma torre condutora de energia elétrica, de prata; no terceiro e último campo, em campanha, de sinople (verde), uma faixa ondada, de prata. 

ELUCIDÁRIO

            O escudo português representa a origem lusitana de nossa Pátria; a estrela evidencia a pessoa do sertanista e sesmeiro Paulo Viveiros Afonso, 1°. explorador da localidade, hoje integrada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, no chamado “Sertão do São Francisco”; a silhueta de prata, em toda sua pujança, destaca a esplendorosa cachoeira de Paulo Afonso; a torre, caracteriza, pela sua forma original, o elemento normal que atravessando distâncias, leva o necessário conforto às populações longínquas do Nordeste; a faixa ondada, representa o rio São Francisco, uma das mais importantes vias fluviais do Brasil

Num listel de goles (vermelho), em caracteres de prata, os seguintes dizeres: 1725 -PAULO AFONSO -1958, respectivamente, início do povoamento e elevação à dignidade de cidade.

Como suportes, dois tipos clássicos da vegetação local, na sua cor.  Conjunto encimado pela coroa mural de cinco torres de prata que é de cidade, tendo sobre a torre central uma elipse de blau (azul), carregada de um “T’, de prata, símbolo do franciscanismo e orago da paróquia da Cidade de Paulo Afonso, na Bahia.                                                    

Art. 2°. -O Brasão de Armas do Município de Paulo Afonso, a que se refere o Art. 1°., figurará em todos os impressos oficiais do Executivo e Legislativo Municipal e de suas autarquias, bem como na bandeira do Município.                                                                      

Art. 3°. -Esta Lei entrará em vigor a partir de 1°. de janeiro de 1966, revogadas as disposições em contrário.

Sala das Sessões, 7/12/1965

Carlos Alberto Alves -Vereador.

Bandeira Municipal

Criada pela Lei nº161, de 20 de Janeiro de 1970

Câmara Municipal de Paulo Afonso Estado da Bahia

Lei n°. 161, de 20 de janeiro de 1970

Adota Bandeira do Município de Paulo Afonso

Art. 1 °. -Fica adotada a Bandeira do Município de Paulo Afonso.                           

Art. 2°. -A Bandeira terá as seguintes características: três (3) retângulos perpendiculares, em tamanhos iguais, sendo os das extremidades em campo vermelho e o do meio em campo branco, tendo ao centro, na devida proporção, o Brasão do Município, conforme Lei Municipal n°. 100/65.

Art. 3°. -Ficam expressas as dimensões principais da Bandeira -Largura: O número de panos que for determinado. – Comprimento: Uma vez e meia a largura do pano.                         

Art.4°. -A largura da Bandeira é dada pelo número de panos. O pano é a largura padrão do tecido filcli que mede 0,45 metros.                                                  

Art. 5°. -A Bandeira do Município de Paulo Afonso deverá ser hasteada em todas as solenidades comemorativas, Federais, Estaduais e Municipais.   

Art. 6º – Esta Lei estará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. 

Sala das Sessões, em 20 de janeiro de 1970

Ver. Carlos Alberto Alves,

Ver. José David Neto,

Ver. José Alcântara de Souza,

Ver. Antônio Carlos de Lucena,

Ver. Arsênio Pereira de Azevedo,

Ver. José Moreira,

Ver. João Bosco Ribeiro,

Ver. Manoel Barros de Freitas,

Ver. Metódio Nunes Magalhães          ,

Ver. Noé Pereira dos Santos,

Ver. Diogo Andrade Brito,

Ver. José Freire da Silva,

Ver. João Francisco de Brito                                             

Hino de Paulo Afonso

Guerreiros que enfrentam a batalha

Firmando os pés na terra da magia

No rosto o suor,

são homens combatentes

Que tem nas mãos a força da energia.

E erguem a bandeira da coragem

Com armas empunhadas noite e dia

Valentes em ação, é um só coração

Simbolizando a nossa harmonia.

Nem mesmo a luz do sol

e o pulso deste rio

Conseguiram impedir

este grande desafio.

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Cidade de infinita beleza

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Criada pela própria natureza

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Lugar de encantos mil

És a capital da energia,

Riqueza do nosso Brasil

O rio São Francisco é tua origem

Nascendo lá na Serra da Canastra

E sob o solo vem,

formando cachoeiras

Iluminando o céu da nossa pátria.

Tu és o braço forte que sustenta

A fonte inesgotável que não pára

O brilho da manhã,

rasgando ao meio o véu

O mundo já conhece a tua glória.

Nem mesmo a luz do sol

e o pulso deste rio

Conseguiram impedir

esse grande desafio.

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Cidade de infinita beleza

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Criada pela própria natureza

Paulo Afonso, Paulo Afonso,

Lugar de encantos mil

És a capital da energia,

Riqueza do nosso Brasil

O Autor do Hino – Oscar Silva

Oscar Silva,  nasceu em Paulo Afonso em 22 de abril de 1956 e é um dos maiores compositores musicais da região. Vencedor de vários festivais de música, Oscar é cantor evangélico e fez o hino de Paulo Afonso em parceria com sua esposa Vilma Rodrigues. Ele tem em seu repertório mais de novecentas composições entre gospel e popular. Despontou para a carreira artística cantando no Coliseu Show, programa de calouros que existiu na década de 70 e era apresentado por Antônio Galdino, Nilson Brandão e Rubem Marques.

Em 1982 Oscar lançou “Vôo Livre”, música que dava título ao seu primeiro LP (Long Play). Após o sucesso deste disco Oscar Silva gravou outros três discos de vinil e vários CDs além de ter muitas de suas músicas interpretadas por grandes cantores evangélicos do Brasil.

Oscar Silva é membro correspondente da Academia de Letras de Paulo Afonso, Cadeira 31 que tem como patrono o poeta Manoel Bandeira.

Fontes da pesquisa: 

Livros:

– De Forquilha a Paulo Afonso – Histórias e Memórias de Pioneiros –  Antônio Galdino da Silva (Ed. Fonte Viva – 2014);

– ABEL BARBOSA – O INVENTOR DE PAULO AFONSO – Antônio Galdino da Silva (Ed. Galcom Comunicações / Oxente – Julho/2019)

– Revistas: De Forquilha a Paulo Afonso – Antônio Galdino da Silva (2010)

– PAULO AFONSO e sua história – Antônio Galdino da Silva (2016)

– Várias edições do jornal Folha Sertaneja 15 Anos (editor: Antônio Galdino da Silva)

LEIA TAMBÉM

PAULO AFONSO e o Sertão Baiano _ Sua Geografia e seu Povo, de Roberto Ricardo do Amaral Reis (Ed. Fonte Viva – 2004)

PAULO AFONSO E A VILA POTY – História não contada, de João de Souza Lima –  (Ed. Fonte Viva – 2007)

O Bronze do Imperador e a Cachoeira de Paulo Afonso, de Luiz Ruben F. de A. Bonfim (Ed. do Autor – 2012)

ANGIQUINHO – 100 anos de História – de Antônio Galdino da Silva e João de Sousa Lima (EGBA, 2013)

PAULO AFONSO – DE POUSO DE BOIADAS A REDENÇÃO DO NORDESTE, de Antônio Galdino da Silva e Sávio Mascarenhas  (Ed. Fonte Viva – 1995)

Os comentários não representam a opinião do Tribuna Mulungu. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Veja também

Relacionado Posts