Por *Emiliano José
Não dá para naturalizar um episódio como o do Ceará.
Não, não vou discutir o tipo de reação do senador Cid Gomes.
Alguns têm pretendido fazer isso.
Eu, não.
O argumento da existência de outros caminhos é sempre razoável.
Mas, ele estava defendendo a legalidade.
Estava na trincheira da democracia.
E por isso foi atingido por balas criminosas.
Ele não está morto por acaso.
Miraram o coração.
E erraram por pouco.
Do outro lado, estavam amotinados, de armas na mão.
Ele insistia: a população não podia ficar refém de uma corporação, cuja tarefa é exatamente a de dar proteção ao povo.
Os policiais estavam à margem da lei.
Faziam isso num Estado nordestino, governado por um petista.
O principal responsável por isso é o próprio Bolsonaro, estimulador desse clima nas polícias.
O ataque aos governos nordestinos virou uma obsessão por parte de Bolsonaro e dos que o seguem.
Eles são a pedra no sapato desse governo.
E quanto mais quente o clima, melhor.
São vários os sinais dos últimos dias, vindos do governo, de agravamento do quadro institucional.
Bolsonaro precisa disso para tentar amenizar a evidência de sua relação com o miliciano morto na Bahia, Adriano da Nóbrega, a quem ele chama sempre de capitão, quase a lhe dever continência.
E o acontecimento do Ceará nos remete à questão da segurança pública e da criação de uma institucionalidade capaz de controlar democraticamente as polícias militares, de modo possam ser subordinadas à lei, à Constituição.
E sejam protetoras da cidadania.
Uma institucionalidade capaz de reprimir as milícias e o crime organizado, o que dependeria também de mudanças profundas na política relativa às drogas, com sua descriminalização.
Tudo isso, no entanto, só acontecerá com a derrota do atual presidente em 2022.
Enquanto isso, vamos fazendo a travessia do deserto.
Defender os governos nordestinos.
Defender a legalidade.
Defender a democracia.
Defender uma polícia subordinada à lei, cidadã.
*Emiliano José é Professor, Jornalista e Escritor.
