Paulo Afonso, 7 de maio de 2024

Paulo Afonso

Bacia do São Francisco perdeu 50% da superfície natural de água e mais de 7 milhões de hectares de vegetação nativa nas últimas três décadas

Por Antônio Galdino com matéria do MapBiomas (www.folhasertaneja.com.br)

No dia 3 de junho, dedicado à defesa do rio São Francisco aconteceram vários eventos em municípios ribeirinhos como em Glória e em Paulo Afonso lembrando a grande importância desse manancial para Minas Gerais e os estados do Nordeste, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe que recebiam suas águas originalmente e agora também os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará que estão recebendo as suas águas através dos canais da transposição deste rio São Francisco desde 2006.

No momento da largada desse processo de transposição do rio São Francisco, levantaram-se muitas vozes contrárias a esse projeto do governo federal e outras a seu favor. Os que se mostravam contrários a essa transposição argumentavam, principalmente que, antes de haver a transposição era imprescindível e urgente que se promovesse todo um grande processo de revitalização do rio e de seus principais afluentes.

Estudiosos desse rio, políticos, juristas e até autoridades religiosas levantaram suas vozes porque o governo federal manteve o propósito de fazer essa transposição do rio, muito importante para as regiões beneficiadas sem que se fizesse o tão necessário, urgente e imprescindível processo de revitalização desse “rio da unidade nacional”.

Nos últimos anos toda a bacia do rio São Francisco sofreu muito com a intensa estiagem e os grandes reservatórios chegaram a nível perigosos que poderiam comprometer tanto a produção de energia hidroelétrica, cujas maiores usinas ficam no complexo de Paulo Afonso, responsável por cerca de 85% de toda energia de fonte hidráulica produzida pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, como outros grandes projetos como os de irrigação, navegação, turismo e outros.

Os pauloafonsinos e vizinhos sentem bem essa falta de águas porque a bela Cachoeira de Paulo Afonso que atraiu o Imperador D. Pedro II para visitá-la em 20/10/1859 e mereceu vigoroso poema de Castro Alves, outros olhares de Delmiro Gouveia que aproveitou as suas águas para gerar energia e foi copiado por Apolônio Sales que criou a Chesf, essa bela Cachoeira de Paulo Afonso vive sem águas por muitos anos e, ainda 1m 1980, José Carlos Feitosa, Carlinhos da Sala dos Visitantes vaticinava: “A Cachoeira de Paulo Afonso, logo, será apenas um retrato na parede”.

O Complexo Paulo Afonso de Usinas Hidrelétricas compreende as Usinas Paulo Afonso, 1, 2, 3 e 4, todas no território desse município baiano, Usina Apolônio Sales, já do território do município alagoano, na divisa com Paulo Afonso, a Usina Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE e a Usina Hidrelétrica de Xingó, a maior do sistema Chesf, no município de Canindé do São Francisco/SE.

A preocupação com a vida do rio São Francisco de cujas águas, em forma de energia hidrelétrica foi escrito um importante capítulo de desenvolvimento do Nordeste tem sido presente na imprensa local e regional, em debates, seminários, simpósios até grandiosos, mereceu até greve de fome do Bispo de Barra/BA mas, desde 2006 que o processo de transposição foi sendo tocado, por todos os governos sem que houvesse o necessário investimento no processo de revitalização.

Naquele ano de 2006 a turma pioneira do Curso de Política e Estratégia da ADESG, encerrava o seu curso em Paulo Afonso e uma equipe, chamada de Águas Inquietas, resolveu apresentar o seu TCC, em abril/2007, com um estudo mostrando esses prós e contras da transposição do rio São Francisco.

Também a Academia de Letras de Paulo Afonso tem se mostrado preocupada com a situação do rio São Francisco e no ano de 2020 produziu um livro com textos, reflexões, artigos do jornal Folha Sertaneja e poesias chamado Rio São Francisco em Prosa e Versos como um grito de socorro a este rio que, além de não ter tido a revitalização prometida pelo governo federal no ano de 2006, ainda sofre com os esgotos de centenas de localidades jogados diretamente no seu leito e ainda agrotóxicos, metais pesados dos que buscam ouro e outras riquezas no seu leito e os que se estabelecem com enorme fazendas e para isso retiram toda a mata ciliar que lhe protege as margens e o seu leito.

Não é de se admirar que o rio São Francisco, nos últimos anos, esteja frequentado a mídia regional e até a justiça tem sido acionada para que os municípios ribeirinhos não arquem sozinhos com a responsabilidade de erradicar as muitas toneladas que chegam diariamente às suas praias e recantos turísticos.

O período chuvoso do final do ano de 2021 veio intenso e as muitas águas, que invadiram terras e propriedades construídas no caminho do rio fizeram também renascer, por quase três meses, as Cachoeiras de Paulo Afonso e encheram todos os reservatórios construídos ao longo do rio e assegurando tranquilidade quanto ao fornecimento de energia pelas usinas hidrelétricas.

Mas o rio tem muitas utilizações como o abastecimento humano e animal, a navegação, o turismo, a produção de energia hidroelétrica e a irrigação de lavouras. E, pelo que noticia na imprensa e corre nas redes sociais, tem havido um abuso e falta de controle do uso dessas águas, especialmente no tocante aos grandes, imensos projetos de irrigação. Outros asseguram haver um excesso de utilização de criatórios de peixes em gaiolas nas águas desse rio São Francisco.

Ou seja, continuam as polêmicas por conta das águas do rio São Francisco e um dia, todos sabem que a conta vai chegar. E está chegando.

Têm sido bem mais frequentes as notícias que o rio São Francisco e seus afluentes estão morrendo. Há um bom tempo de fala nisso mas os ouvidos se fingem de moucos e para não querer ouvir esses gritos de socorro.

E a conta do descaso, do desinteresse, das vaidades pessoais, dos interesses escusos, chegou. E ganhou a mídia e chega ao Jornal Nacional da rede Globo, com importante participação do pauloafonsino Sérgio Xavier que participa ativamente de ações na área do Clima e recentemente esteve em Paulo Afonso reunido com instituições do município com o objetivo de incluir o município de Paulo Afonso em um grande plano de desenvolvimento regional.

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